domingo, 10 de julho de 2011

Coluna Europa by Felipe Campos Peres

FELIPE CAMPOS PERES
Coluna Europa

A futurística Cidade das Artes, marco arquitetônico de Valencia e paraíso urbanístico

photos by Bia Junqueira
photos by Bia Junqueira
photos by Bia Junqueira

Valencia, liberdade e sonho estudantil

Saindo de Madrid, uma viagem de ônibus de quatro horas de duração para Valencia. Em Valencia fiquei hospedado na casa do hippie do meu irmão e logo de primeira percebi a diferença entre as duas cidades. A começar pelo dialeto, já que em Valencia se fala o valenciano, que possui algumas peculiaridades em relacao ao espanhol oficial. As falas são mais arrastadas e a forma de escrever também muda um pouco: muchacho, por exemplo, que significa moco ou rapaz no espanhol, no valenciano se escreve xicots, a palavra parecer, que no espanhol tem exatamente o mesmo significado do brasileiro, em valenciano se escreve semblar e lechuga, que significa alface, se escreve enciam. Outras características de Valencia, a terceira maior cidade da Espanha com cerca de 800 mil habitantes e a grande quantidade de estudantes e a mistura de povos e culturas. Exemplo maior foi chegar a republica do meu irmão: no apartamento localizado no bairro de Benimaclet moram, alem do meu irmão, Davi, um estudante de ciências da informática nascido em Cuba, Roberta, italiana de Nápoles que estuda farmácia e Natalie, uma colombiana que faz mestrado em direito e estagio.
Por sorte chegamos a Valencia no dia de São João. Pessoal, vocês não têm idéia do que e "La fiesta de San Juan"! O forte calor atraiu mais de 200 mil pessoas as ruas da cidade e claro, o ponto alto da festa aconteceu nas areias da praia de frente para o mar Mediterrâneo. Muitas fogueiras, churrasco, bebida, loucura, homens, mulheres, velhos, crianças, bebes, todos reunidos nas areias, sem briga, sem confusão. Ao invés dos infernais sons automotivos brasileiros, rodas de violão, batucadas africanas, cantigas tradicionais. Foi uma coisa impressionante ver isso. Penso na liberdade que a policia entrega na mao desse povo, sem ser decepcionada. Enfim, uma baita duma festança regada a vinho, queijo, banho de cultura e cigarros. Alias por falar em vinho, tomamos um legitimo Frances, da melhor qualidade, por apenas 2 euros, ou seja, por menos de R$ 5.
Também em Valencia se vê a mesma educação de Madrid no transito. Sem buzinas nem muito engarrafamento. O transporte publico também e espetacular: alem dos ônibus e das linhas de metro, a população tem a sua disposição um incrível meio de transporte chamado de "transvia", que funciona como um bonde moderno. Animal.
Agora de impressionar mesmo e o complexo chamado de Cidade das Artes. Localizado próximo a orla marinha, um complexo gigante, com características super futurísticas e com forte inspiração no mundo árabe e de encher os olhos de água. Piscinas gigantescas com uma água azul muito clara, espelhos d’água enormes e construções malucas formam esse paraíso urbano.

Legenda: Detalhe para o incrível mosaico projetado por Gaudi

Legenda das fotos abaixo: Parque Guell com as loucas formas de Gaudi e Barcelona aos fundos

Legenda: Uma das laterais do Teatro Museu Dali na cidade de Figueres, loucura desde a fachada

De Valencia fomos direto para Barcelona, capital da Catalunha e segunda maior cidade da Espanha com 1,6 milhões de habitantes. Pessoal, se o valenciano e um dialeto doido o catalão consegue ser pior. A forma de falar e mais dura e difícil de entender, apesar de que algumas palavras catalãs são muito parecidas com o português. Por exemplo, vermelho, que em espanhol se escreve rojo, em catalã se escreve vermell. Bom, mas de uma forma geral e dificil mesmo. Chegamos a Barca e fomos atrás de um hostal que ficasse próximo a Rambla, que e uma rua com uma ilha no meio e que atravessa todo o centro da cidade. Acontece que a cidade estava lotada e ficou impossível de se encontrar um lugar que se custasse menos de 30 euros por pessoa por noite. Porem, quem procura acha e esse tem que ser um dos lemas do mochileiro: procurar ate dar calo nos pés. Procuramos tanto que acabamos conhecendo um paquistanês dono de um hostal. Esqueci o nome do cara, o que já era de se esperar. Enfim, ele nos convidou a conhecer o estabelecimento dele. Fomos ate lá, no bairro Gótico, próximo ao centro da cidade onde queríamos nos hospedar. Porem ao chegarmos fomos avisados que não havia vaga, mas o fulano nos informou que tinha um tio que morava duas quadras para cima, no bairro Paquistanês, e que ele cobrava 15 euros (cerca de R$ 30), pela noite. Beleza estávamos muito cansados e com vontade de conhecer a cidade sem uma mochila de 15 quilos nas costas. Aceitamos o convite e de maneira ate inconseqüente ficamos por lá. Detalhe: o tiozinho paquistanês (que só falava em inglês, inclusive), abriu as portas de seu próprio quarto para dormirmos. Outro detalhe: o cara morava com seus três filhos e cada um dos filhos possuía pelo menos mais uma ou duas crianças cada um. Então da pra se imaginar tudo isso em um apartamento de apenas um quarto, cozinha, banheiro, e sala. Bom, passamos uma noite e demos o fora dali.
Na outra manha nos levantamos e fomos conhecer o Parque Guell. Depositamos nossa bagagem em um cofre na estação ferroviária e fomos bater perna. O parque Guell fica localizado na parte mais alta da cidade. Possui cerca de 15 hectares de área e é um lugar simplesmente paradisíaco, já que conta com muitas obras arquitetônicas do mestre Antoni Gaudi. A grande característica desse arquiteto e escultor são as construções em forma de espiral, o abuso das cores e o mosaico. Gente, e uma coisa impressionante as obras desse cara. Tudo isso se funde, em uma paisagem infinita com Barcelona toda aos fundos. Chãos limpos e água potável distribuídas em fontes mostram o desenvolvimento do povo europeu. Infelizmente não tivemos muito tempo para ver todo o resto de Barca, mas isso o Parque Guell realmente e um marco impressionante.

Figueres

Ainda na Espanha passamos pela romântica cidade de Figueres. O leit
or já percebeu meu absoluto fascínio pelo grande artista surrealista que nasceu nessa cidade de 35 mil habitantes, mas não pode imaginar como me senti emocionado de passar pelas ruas da incrível cidade que inspirou boa parte da obra do mestre dos sonhos. Enfim, chegamos a Figueres e a cidade e realmente muito surreal: esculturas de Dali espalhadas pelas ruas, de repente se vê um barco naufragado em um monte de terra e em outra praça o visitante se depara com a escultura de um guerreiro lutando com um dragão. As pessoas também ficam a vontade nas ruas, bebendo e fumando, comendo e conversando, como o bom espanhol costuma fazer. Dessa forma encontramos um camping próximo a cidade (a cerca de 5 km do centro) e ficamos hospedados por apenas 4 euros por pessoa. Dai fomos ao ápice desse tour pelas artes, ao visitarmos o Teatro Museu Dali. Pessoal, o Dali com toda sua loucura construíram, na década de 1970, o verdadeiro paraíso do surrealismo dentro de uma antiga fortaleza medieval, que posteriormente transformaram-se em um teatro quando Dali era pequeno. O acervo do museu reúne a maior parte das obras de dali. E um local espetacular. Desenhos, rascunhos, pinturas, esculturas e uma galinha gigante de pernas humanas com a cabeça de um chinês dentro da barriga podem ser vistas nesse mágico espaço. Foi simplesmente inacreditável estar perto de obras como seu "Autoretrato com bacon frito ao lado" podem ser vistas ali. Eu, embriagado pela emoção, chorei diversas vezes nesse museu. Chorei também ao me aproximar e ao colocar a mão sobre a tumba onde o mestre esta enterrado. Dali, o mestre, o pintor, o surrealista e o apaixonado... Foi incrível. Na próxima coluna escreverei sobre minha passagem pela Alemanha. Um abraço e ate à próxima.

Legenda: Autoretrato de Dali com um bacon frito ao lado, uma das obras mais famosas do surrealista

Gostaram???

Abraços de Berlin!!

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