segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Brigitte - por Felipe Campos Peres

Felipe Campos Peres
Eu conheci a Brigitte em meados de 2006, quando meu namoro com Bia, hoje minha noiva, apenas engatinhava. Conheci a Brigitte e logo de cara pude perceber que nela existia a mais profunda e bela qualidade canina: a fidelidade. Bia, como toda mulher vaidosa, demorava horas para se arrumar. Nós combinávamos de sair às 20h, ela terminava de se arrumar às 22h30m. Nesse tempo, eu ainda conhecia muito pouco meus sogros Tuim e Stella e por conta disso sempre me sentia meio constrangido nas inúmeras vezes que tinha que aguardar a princesa Beatriz se arrumar em seu quarto. Então eu me sentava no silêncio da sala e acendia um cigarro atrás do outro, esperando minha amada se arrumar. Nesse meio tempo, meu sogro permanecia lendo jornal ou assistindo TV, enquanto minha sogra falava ao telefone ou algo do gênero e eis que, nesses momentos de monotonia e certo constrangimento, me aparecia a Brigitte, sempre me recepcionando com um largo sorriso e língua de fora. Ela sempre vinha e, como de costume, apoiava a cabeça na minha coxa, pedindo carinho com aqueles lindos olhos cor-de-mel. Eu a afagava, coçava seu pescoço, orelhas e barriga, e ela me retribuía o carinho me fazendo companhia. E que companhia mais agradável e sincera! Os meses foram se passando e minha relação com Brigittona, como eu e Bia costumávamos chama-la, foi se estreitando cada vez mais. Depois de passados alguns meses de namoro, dona Brigitte já reconhecia o roncar do motor do meu carro, já reconhecia meu cheiro e meus afagos. Eu também sabia perceber se determinado dia ela estava mais feliz, ou mais tristonha. Ela geralmente estava bem mais feliz do que tristonha. Na época eu curtia muito fotografia. Eu utilizava uma Pratika analógica, máquina russa adquirida por meu pai no final da década de 1980. E foi neste equipamento que eu consegui registrar ótimas imagens de Brigitte, uma das cadelas mais elegantes e charmosas que eu conheci em toda a minha vida. Em 2007, por diversas questões, eu e Bia nos mudamos para Londrina, e passamos a ver Brigitte apenas esporadicamente. Em 2008, me mudei para Santo Antônio da Platina e passei a trabalhar na Tribuna do Vale, onde estou até hoje, Brigitte manteve-se em Ribeirão Preto e Bia, foi para São Paulo estudar. Assim, as visitas ficaram cada vez mais escassas, mas fiquem certos de que, todas as vezes que nos encontrávamos em Ribeirão Preto, Brigitte era uma festa só. Ela tinha, inclusive, a mania ‘humana’ de ficar em duas patas e nos abraçar pela cintura. Isso era de uma alegria monstra para mim, que sentiu mesmo que aquele ser era diferenciado, que entendia tudo ou quase tudo desse mundo. Puro amor, lealdade, fidelidade e carinho. Nessa época o Bartô, meu filhotão canino, já via a ‘tia’ Brigitte de vez em quando, e ambos se curtiam pra valer. Bom, em 2009 os pais da Bia se divorciaram. Tio Tuim mudou-se para uma casa muito menor e em reforma, tia Stella foi morar em um apartamento em São Paulo, e a Brigittona teve como destino a vida na fazenda Santa Cecília, em São Joaquim da Barra, distante cerca de 60 km de Ribeirão Preto. Sonho para qualquer cachorro, tendo em vista que Santa Cecília trata-se de uma propriedade linda, com gramados extensos e um bosque de flamboyants. Acontece que dona Brigitte sempre foi uma lady, uma dama, uma cachorra que sempre gostou de deitar em tapetes, dentro de casa. Foi em outubro de 2010 que eu e Bia fomos passar uns dias na calmaria do campo. Nessa visita, Bia, ao ver a Brigitte dentro de sua casinha, meio tristonha e sujinha de lama, não titubeou em me dizer: ‘Pitt, quero que a Brigitte vá morar conosco’. Eu concordei em primeira mão. Bia queria que Brigitte passasse os últimos anos de sua vida em um local mais aconchegante, mesmo que menos espaçoso. Nada mais justo do que isso, pensei na época. No domingo, na hora de despedirmos de Brigitte, Bia fez o anúncio: ‘Brigittona, quando voltarmos pra Ribeirão você vai ir viver com a gente no Paraná’. Como nunca tínhamos nos decepcionado com Brigitte, resolvemos também não decepcioná-la. No final de novembro nós buscamos a Brigitte, que veio mesmo viver conosco em Santo Antônio da Platina. Lembro como se fosse ontem o dia em que ela chegou com a gente na casa em que morávamos, na rua dos Estudantes. Ela deu uma corridinha pelo gramado, depois foi cheirar o Bartô e ambos começaram a brincar. Foram bons tempos naquela casa. Nessa época ainda tínhamos, além dos cães Bartô e Brigitte, o Mimi, gatinho vira-lata que faleceu meses depois, vítima da maldade do ser humano, ao ser envenenado sem motivos aparentes. Os três vivam em harmonia, coisa linda de se ver. Com a Brigitte morando próxima de nós, porém, nós começamos a perceber algumas debilidades físicas já meio gritantes. Brigitte adoecia com facilidade, sofria de dores por conta de tumores que já lhe enfraqueciam o corpo. A idade já apresentava as consequências do andarilho silencioso que é o tempo. Pelo menos uma vez por mês Brigitte tinha que ser atendida pelo competentíssimo médico veterinário Jaime Corte. Às vezes quem a atendia era seu filho, Gustavo. Doses e doses de remédio, doses e doses de soro. Porém, sempre saíamos do consultório crendo que Brigitte melhoraria, devido a sua força, coragem e bom humor. Em abril deste ano de 2011, depois da morte do Mimi, eu e Bia resolvemos nos mudar para um apartamento no centro da cidade. O apartamento minúsculo virou então o nosso reduto, nossa fortaleza: lá viveram, simultaneamente, eu, Bia, Brigitte e Bartô. Os dias se passavam e Brigitte cada vez mais apresentava sintomas da velhice. Sofria de dores, não conseguia dormir direito. Mas nunca abandonava o bom humor típico. Bastava eu ou Bia chegar em casa que ela já fazia aquela festa: saltava no sofá, latia seu latido rouco e preguiçoso, vinha nos abraçar com todo o amor do mundo. Nessa saga da Brigitte não posso me esquecer da gigantesca ajuda de Beth e do Guilherme. Beth, dona do canil Vale do Rio das Cinzas e Gui, seu filho, nos ajudaram imensamente, cuidando da Brigitte enquanto ela estava doente ou quando nós tínhamos que viajar. Sabíamos que, quando estava no canil, Brigitte estava bem tratada, bem cuidada. E foi justamente no canil, junto com outros cães lhe fazendo companhia, que Brigitte passou os últimos dias de sua vida. A idade falou mais alto e o cansaço do corpo também. Brigitte faleceu na manhã do último sábado, dia 8, aos 13 anos. Eu, Brigitte, só tenho que te agradecer. Desde a companhia na sala de estar da casa da rua Maria Quitéria, até seus afagos amorosos desses seus últimos meses de vida, você me ensinou, me deu amor e eu espero mesmo ter retribuído tudo isso, meu amor. Brigitte, dentro do nosso coração e memória você sempre estará viva. Vá com Deus, Titicona, e descanse em paz...

8 comentários:

  1. Ai Bia...sinto muito...eu lembro tanto dela...era da família já...nunca se separa, não é? Um grande amigo , quase aquele que nunca tivemos, poucos humanos, sei como se sentem. Lindo texto,bjao
    Tia Cintia

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  2. O Texto ficou ótimo, mesmo não conhecendo Brigitte, já me deixou com saudades dessa cadela carinhosa, Descanse em PAZ Brigitte!!!!

    Meu Sentimentos, Matheus Castro

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  3. Que tristeza!
    Tbém perdi minha Lisa este ano e aos 13 anos, é um senimento indescritível.
    Como apaixonado pelos bichos só tenho a agradecer a vcs por terem dado tanto amor e cuidado a Brigitte.
    Meus sentimentos,
    Bjos Claudia

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  4. Obrigada pelo carinho de todos! Um beijão Lê

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  5. Poxa, Bia!...meus sentimos a você e a Helena pela Brigitte . Essa Crônica ficou maravilhosa, emocionante de se ler e dá para sentir o carinho e amor!..cães fazem toda diferença e como diria Machado de Assis "Felizes os cães, que pelo faro descobrem os amigos". Bjux Gde com carinho nas duas!

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  6. Muito lindo o texto e todo sentimento nele colocado! Parabens!

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